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Orçamento empresarial de 2021

''Sugerimos que as empresas observem cinco pontos durante a elaboração do orçamento, a partir dos quais podem ser construídos os pilares para a retomada das atividades, o retorno aos lucros e a recuperação do caixa da companhia.''

Flávio Boan 20/07/2020

Estamos no início do segundo semestre, e as lideranças empresariais estão empenhadas em definir os caminhos para a recuperação dos negócios, uma vez vencida a etapa mais crítica da pandemia da covid-19. Diante desse cenário, acreditamos que a gestão de gastos orientada para o planejamento orçamentário de 2021 terá características nunca antes observadas em ciclos anteriores e deverá se destacar por três competências: a) capacidade de se reinventar para recuperar o crescimento; b) habilidade para reprojetar e repensar sua operação e sua estrutura; c) agilidade para executar a transformação digital ao longo do ano.

Nesse contexto, sugerimos que as empresas observem cinco pontos durante a elaboração do orçamento, a partir dos quais podem ser construídos os pilares para a retomada das atividades, o retorno aos lucros e a recuperação do caixa da companhia.

Em primeiro lugar, o orçamento de 2021 será diferente porque deverá privilegiar como nunca a criatividade, a inovação e a busca por novas fontes de receita. Deve ser construído buscando desafiar a todos na organização por novas formas de gerar receitas, como campanhas para promover o aperfeiçoamento da experiência do cliente, recuperação de clientes perdidos, ajustes nos modelos de precificação a partir da análise de novos dados, realocação de gastos comerciais para fontes voltadas para rápido crescimento e a digitalização de novos canais de vendas.

Também acreditamos que será marcado pelo uso intenso de grandes bases de dados, considerando a substantiva disponibilidade de serviços e recursos de Analytics para coletar, processar, analisar as informações e torná-las acessíveis para os gestores na tomada de decisão. Porém, diante do nível inédito de incertezas sobre o futuro próximo, capacidade analítica avançada será necessária, mas não suficiente. Além de contar com bons modelos de previsão de demanda e consumo, os gestores do orçamento devem contar com a agilidade para avaliar o que está e o que não está funcionando, ou seja, agir com senso de urgência e mudar os rumos do orçamento e da operação para se adaptar aos novos tempos.

O terceiro ponto é a necessidade de repensar a cadeia de suprimentos, buscando novo equilíbrio do mix de fornecedores, bem como do modelo de abastecimento. Com isso, será necessário avaliar o custo unitário dos insumos e serviços comprados de terceiros (algo extensamente praticado em anos anteriores) e reavaliar o que fazer dentro ou fora de casa. O novo desenho da operação e da cadeia de fornecimento deverá ser orientado para a redução dos riscos de rupturas futuras e para a promoção de competências locais que aumentem a variedade de opções de abastecimento. Novas tecnologias permitem que o antigo trade off entre custo e flexibilidade não seja mais necessário. Desafiar o orçamento com a busca de operações de baixo custo e alta flexibilidade deverá ganhar ênfase a partir de 2021.

O quarto aspecto está relacionado à aceleração da digitalização dos processos e serviços. O planejamento orçamentário que começa agora deve dar destaque a uma agenda digital da empresa, a ser executada ao longo de todo o 1º semestre e reavaliada no 2º semestre para a atualização das métricas de sucesso.

O quinto e último aspecto é que o orçamento terá de ser altamente competente na identificação, priorização e comprovação de retorno sobre o valor dos gastos alocados em cada área e em cada processo. Para impulsionar o crescimento e a retomada da atividade, essa competência será fundamental. Mesmo para as organizações mais focadas em produtividade, a alocação inteligente dos gastos será oportunidade para criar entusiasmo em toda a empresa e mostrar às pessoas os caminhos da recuperação. O desafio não será simplesmente voltado para reduzir os gastos e eliminar o desnecessário, mas para liberar fundos a fim de realinhar os gastos com a estratégia. Será fundamental criar uma cultura de reinvestimento que permita que boas ideias dos colaboradores da empresa sejam consideradas nas decisões orçamentárias.

Acreditamos que esses cinco aspectos mudarão de forma consistente e duradoura os processos orçamentários a partir de agora. A busca constante pela alocação inteligente de gastos e a prática de novo modelo de gestão dos recursos orientados para repensar seu negócio e priorizar a geração de valor para a empresa, para todo o time e para a sociedade, ressignificará o orçamento base zero para o modo de como fazemos o nosso trabalho aqui.

* Engenheiro, é sócio diretor da Falconi

Fonte: Correio Braziliense.


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