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Educação online: como o coronavírus será catalisador para a conectividade no mundo

O uso da tecnologia na garantia de uma educação de qualidade.

Por G1 13/05/2020

O Brazil at Silicon Valley promoveu nesta quarta-feira (13) um debate sobre educação online e filantropia. Participaram do encontro virtual Sal Khan, da Khan Academy, e o empresário Jorge Paulo Lemann. O G1 transmitiu o evento ao vivo. 

O tema da conversa foi o uso da tecnologia na garantia de uma educação de qualidade, sobretudo durante a pandemia coronavírus. A dupla também discutiu qual é o papel da filantropia na solução de alguns dos maiores desafios sociais do Brasil.

Principais desafios

O principal desafio, diz Khan, é atingir alunos que não têm acesso a internet em casa, em especial de países menos desenvolvidos. Mas a incerteza sobre a duração da crise deve forçar o avanço da tecnologia como ferramenta de ensino.

"Com o fechamento da escola, vimos que era a hora de entrar em ação. Preparamos os servidores e percebemos o aumento de tráfego imediatamente no Brasil, Estados Unidos e Índia", diz Khan. "A crise vai abrir novas caminhos. Estávamos indo para esse rumo, mas a Covid-19 será um catalisador nesse movimento."

Sobre o Brasil, Khan percebeu o tráfego da Khan Academy aumentar mais intensamente que o de outros locais, mesmo comparado aos Estados Unidos. Hoje, o país é um dos maiores do mercado internacional da ONG, com boa responsabilidade em triplicar os acessos aos cursos oferecidos.

Para Jorge Paulo Lemann, a tendência é de aumento do uso de tecnologia no ensino, mas não sem apoio do governo, de bancos de desenvolvimento e investimento em nível local. "Há problemas de conectividade e desigualdade no ensino brasileiro, mas estou otimista que esse processo estimule professores a usar meios online como complemento no ensino, não como concorrentes", afirma.

Adaptação

A dúvida que não quer calar sobre a educação digital não escapou ao debate desta quarta-feira. É possível ter o mesmo grau de engajamento durante uma aula com aulas digitais?

Lemann não vê problemas. Para o empresário, o desenvolvimento constante das tecnologias mostram que as pessoas sempre foram muito adaptáveis às novidades. O ensino será mais uma delas.

"Muita gente reclama das crianças que passam muito tempo em seus celulares, mas é uma forma em que se encontram de forma diferente", diz. "O mundo todo está descobrindo que podemos nos reuniar sem ir ao escritório, ou viajar tanto. Mas as pessoas gostam do contato humano, pode ser que o contato humano até melhore."

Com a deixa de Lemann, Khan observa que o contato dos filhos melhorou, já que estão mais presos à tecnologia para as obrigações do dia a dia.

"Não é que o tempo de tela seja bom ou ruim. É claro que se deve ter tempo para outras atividades, mas se o tempo de tela for produtivo, com interação e diálogo com o professor, pode gerar mais engajamento do que o ambiente de escola", diz. "O segredo é ser o mais interativo possivel, para que a aula não seja só um video."

Como a conectividade no Brasil ainda é um problema, o brasileiro lembra que o Uruguai conseguiu implementar a digitalização em todas as escolas. Por aqui, a Fundação Lemann estima que algo assim custaria US$ 15 bilhões.

"É preciso descobrir a forma correta de fazer, as pessoas comprometidas para fazer isso, as operadoras, o governo", diz. "É coordenar tudo isso e assegurar que a coisa certa seja feita."

Filantropia

Khan fez carreira no mercado financeiro e cita em específico o que lhe motivava a trabalhar em um hedge fund. Com o tempo percebeu que o que havia de gratificante no setor, acima do lucro dos fundos, era o desafio.

E o impacto de desenvolver o potencial por meio da educação tornou-se o propósito que o levou a desenvolver a Khan Academy. "Em 10 anos, meu sonho é ter 1 bilhão de pessoas usando o Khan Academy e entender que estão atingindo seu potencial com nossa ajuda."

Lemann, por sua vez, percebeu que poderia levar os negócios enquanto buscava revelar talentos que não tinham acesso ao topo da educação por desigualdades sociais. Assim, deu início à Fundação Estudar, que se consolidou ao dar bolsas para estudantes acessarem universidades de elite fora do país e voltar para o Brasil e trazer progresso.

"Quis dar às pessoas a oportunidade de continuar estudando, conhecer as pessoas certas ou montar seus negócios dos sonhos", diz. "É gratificante, gosto de estar com o jovens, que tem ambição para diminuir a desigualdade social, e pessoas mais preparadas podem fazer mais."

Ambos destacam que a filantropia não depende de dinheiro. Se Lemann partiu para o financiamento de estudantes, Khan afirma que começou seu projeto com voluntariado.

"Eu tutorava um primo e pensava: como posso fazer essa ajuda ganhar escala?", diz. "Dali, parti para mais primos. Abri o que estudei para o público. E, assim, mais gente foi tendo acesso."

O evento

O debate sobre educação online é o segundo painel realizado pela atual edição do Brazil at Silicon Valley. O primeiro discutiu como as grandes empresas de tecnologia reagiram à crise gerada pela pandemia do coronavírus (reveja clicando no link).

A Khan Academy é uma das ONGs de maior sucesso mundial em conteúdo de qualidade digital sem custos. Jorge Paulo Lemann é empreendedor, investidor, filantropo e membro do conselho fundador das Fundações Estudar e Lemann, organizações sem fins lucrativos.

O Brazil at Silicon Valley é uma conferência organizada por estudantes brasileiros das universidades de Stanford e Berkeley, na Califórnia. Por causa do coronavírus, a edição deste ano está sendo realizada de forma virtual.

Ao todo, a edição deste ano deve promover cinco painéis. Eles serão realizados às quartas-feiras do mês de maio.

 

Imagem: Google.
Fonte: G1.


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